Nas lentes de um visionário
Foi a partir de uma iniciativa de Thomaz Farkas (Budapeste, Hungria, 1924 – São Paulo SP, Brasil, 2011) que nasceu o Videobrasil. Após convencer sua nora Solange a organizar um grande evento dedicado à linguagem do vídeo, um dos mais importantes fotógrafos do Brasil se tornou também personagem central na consolidação e legitimação desse suporte nas artes. Ele ainda permaneceria ao lado de Solange Farkas, encabeçando o Festival de que se tornou o grande patrono, por sete edições, quando sua empresa, a Fotoptica, patrocinava o projeto.
Além de fotógrafo, Thomaz era cineasta, professor e empresário. Ganhou a primeira máquina fotográfica de seu pai aos oito anos de idade, com a qual começa a fotografar as pessoas e os arredores da casa da família, vinda da Hungria na década de 1930. Em 1942, aos 18 anos de idade, integra o histórico Foto Cine Clube Bandeirante, junto com Geraldo de Barros, German Lorca, Gaspar Gasparian, entre outros. O grupo desenvolvia trabalhos ligados ao avanços da arte moderna na fotografia, sendo considerado pioneiro na adoção deste tipo de linguagem no Brasil. Afastando-se do pictorialismo e da fotografia ligada aos gêneros tradicionais de pintura (retrato, paisagem etc), os artistas centravam-se nos aspectos próprios ao meio fotográfico, distanciando-se do tratamento da foto como mera reprodução, sendo próximo aos construtivismos europeus diversos em sua tendência à abstração e à geometrização.
Na década seguinte alguns destes integrantes, como Geraldo de Barros, alinham-se ao concretismo surgido em São Paulo. Farkas, no entanto, passa a se interessar por uma fotografia de cunho mais humanista, ligada ao registro da intimidade e do social, próxima ao fotojornalismo. Esta tendência deve-se, em parte, à sua admiração pelos fotógrafos modernos norte-americanos, como Paul Strand e Edward Weston, com quem chegou a estabelecer contato durante viagem aos Estados Unidos em 1948. Porém, esta opção não se fez em detrimento das conquistas estéticas conseguidas anteriormente, muito embora afaste-se da abstração. Essa passagem é claramente notada na série de fotografias realizadas durante a construção de Brasília entre 1957 e 1960. Em 1949 promove exposição individual de suas obras no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e participa de exposição coletiva no Museum of Modern Art (MoMa), em Nova York, que adquire sete fotos suas para o acervo.
Em 1953 completa a graduação em Engenharia Mecânica e Elétrica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde passa a dar aulas de fotografia em 1969 para os cursos de Cinema e Jornalismo da Escola de Comunicação e Artes. Lecionou também no Museu de Arte de São Paulo, onde fundou com Geraldo de Barros seu Laboratório de Fotografia. Em 1960 assume a direção da empresa Fotoptica, fundada por seu pai na década de 1920, antes da vinda do resto da família. Na década de 1970 lançou a revista Fotoptica, para divulgação da produção nesse campo, e a galeria homônima, uma das primeiras a comercializar fotografias no país. Na mesma década é responsável pela Caravana Farkas, projeto dedicado a produzir documentários pelo interior do Brasil. Em 2011 reúne uma seleção de sua obra na exposição Thomaz Farkas – Uma Antologia, no Instituto Moreira Salles, lançando livro de mesmo nome.