Impactos da internacionalização
O segundo encontro do dia 06 de novembro da extensa programação do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil debateu a evolução da videoarte e a questão da identidade do Sul geopolítico, com o título "Pelo mundo: processos e sentifdos da internacionalização na arte". Com presença da artista e professora cubana Yolanda Wood, do artista e curador de cinema e vídeo Michael Mazière, e de Elvira Dyangani Ose, curadora especializada em arte africana, o debate faz parte do Foco 2 dos Programas Públicos do Festival, intitulado Vetores e Inflexões, que tem por objetivo debater temas que o nortearam em seus 30 anos. A mediação foi feita pelo pesquisador e curador argentino Jorge La Ferla.
Michael Mazière, francês radicado na Inglaterra, abriu o encontro com uma análise sobre a evolução da videoarte nos anos 1990 até os dias de hoje. Segundo ele, até a última década do século 20, o contexto internacional da videoarte era marcado por um estrito condicionamento de seus meios de produção – câmeras, locais de edição e exibição – bem como uma linguagem muito específica, distante do cinema e da TV. “Hoje essas fronteiras são mais fluidas”, afirma. “Não há mais distinção entre videoartistas e os artistas de outras áreas, como havia até 1984”.
A partir dos anos 1990, com as mudanças tecnológicas ocorridas, como a popularização dos PCs e o barateamento das câmeras de vídeo, isso começa a mudar. “A década representa uma transição na videoarte”, diz. Nesse período é que ela começa a expandir suas pesquisas e obras para uma perspectiva internacional e que começam, também, as exibições de videoartistas em galerias, por meio de instalações e formatos mistos.
Sul geopolítico
Yolanda Wood afirmou que é momento do Caribe e os demais países que compoem o Sul geopolítico olharem para si mesmos. “Estamos dentro do Sul, mas não sabemos exatamente o que é essa região”, afirma. Para ela, em seu presente estágio civilizatório, os países do Sul já superaram a questão da construção de suas identidades nacionais – questão muito forte entre as décadas de 1930 e 1940. Hoje, segundo Yolanda, essas identidades já estão estabelecidas e é possível enfocar a internacionalização e intercâmbio das culturas, sem a necessidade do crivo da cultura ocidental, que, para ela, exercia um peso esmagador no novo continente. “Não existiu apenas a dominação do poder, a dominação econômica. Houve também uma dominação cultural que determinou o valor estético do que era produzido na região”, diz.
O Sul, para Yolanda, é portador de uma “geografia interior”, de um pensamento voltado para a solução dos problemas do homem, para a construção de um novo humanismo. A ideia encontra eco na fala de Elvira Dyangani Ose, cuja participação encerrou o encontro. Ose afirmou que, ao contrário do que é frequentemente apregoado, não existe uma arte africana, mas, sim, identidades locais de cada país e, dentro de cada país, ressonâncias em comunidades específicas. Para abordar essa realidade, foram criadas publicações como a Chimurenga (revista impressa e site), que tinha por objetivo a divulgação da universalidade da cultura africana e de suas questões específicas e de seu tempo, indo além de tribalismos, como frequentemente ocorre.
Assista ao encontro no Canal VB:
Parte 2 - 18º Festival: vetores e inflexões | Pelo mundo: processos e sentidos de internacionalização da arte | 18º Festival, 2013