Design, conceito e espaço
Na última mesa do Foco 2, Design, conceito e espaço, os designers Kiko Farkas, Bill Martinez, e as duplas Celso Longo e Daniel Trench, Angela Detanico e Rafael Lain, falaram sobre o processo de criação da identidade visual do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil ao longo de seus trinta anos.
Criador de duas identidades visuais do Festival, entre elas a da primeira edição, Kiko Farkas falou das mudanças tecnológicas ocorridas ao longo desse período na criação gráfica. “O cartaz era a peça básica e hoje não é mais. Você não tem mais uma imagem, você tem uma paisagem.” Farkas conta também que, na primeira edição, voltada para o vídeo, “a ideia era que houvesse uma reflexão sobre o conteúdo. O processo de criação dos cartazes tinha a ver com o dos próprios vídeos.”
Depois de um momento em que a evolução tecnológica foi a principal questão para a estética do vídeo e da criação gráfica, ele vê hoje um movimento similar ao da primeira edição do festival, em que a dimensão mais documental, de conteúdo político, volta a preponderar. “Eu tenho a sensação de que o que importa é mostrar o que a mídia mainstream não mostra”, afirma ele, que atribui isso à própria evolução tecnológica, que transformou os meios tecnológicos e digitais como parte do cotidiano.
Bill Martinez, que criou a identidade visual da terceira edição, sucedendo Farkas, disse que, nos tempos 1980, criar a identidade do Festival era fazer o cartaz. “Não existia computação gráfica, existia computação”, diz.
Daniel Trench, um dos criadores da identidade visual da atual edição, disse que “a ideia não era de romper, de criar algo novo, mas era buscar uma relação de continuidade, que dissesse respeito ao Festival e criar duas identidades, uma vez que são dois os projetos da atual edição, a exposição 30 Anos e a mostra competitiva Panoramas do Sul”. Ao que Celso Longo, parceiro de Trench, completou: “tentamos fazer algo mais simples, mais duro, que buscasse esta relação com as identidades anteriores de Rafael Lain e Angela Detanico. (...) A gente pensava em criar um ambiente que tivesse uma espécie de neutralidade, uma tentativa de criar uma semântica mais próxima dessa edição”, conta. O outro ponto da proposta era utilizar o espaço do Sesc Pompeia, que Longo classifica como uma das joias arquitetônicas de São Paulo. “A ideia era ocupar este espaço de outra maneira, aproveitando sua arquitetura e se relacionando com ela, de uma maneira quase seca, de tão simples”, explicou Longo.
Rafael Lain, que ao lado de Angela Detanico criou as identidades visuais da 13ª à 17ª edição, apresentou o processo de criação da dupla por meio de animações, num contraponto aos cartazes ainda feitos a mão, com nanquim, de Kiko Farkas, refletindo as mudanças do design. O trabalho da dupla buscava a integração dos conceitos da curadoria, por meio de uma investigação baseada na tipografia e semântica, voltada a aplicação em diferentes suportes, como vinhetas, site, e peças da própria exposição. “O Videobrasil oferece a possibilidade de integração do design ao próprio Festival, que acaba refletindo a evolução e mudanças da própria instituição”, disse Angela.
Criadora e curadora do Festival, Solange disse que não consegue pensar no Videobrasil sem estar numa troca constante com os designers, cujo trabalho começa até um ano antes da edição seguinte. “O design é integrado ao trabalho da curadoria, fazendo parte deste processo e refletindo o conceito do festival”, conta.