Exposição e palestra em Porto Alegre resgatam a história do vídeo no Brasil
O Brasil tem uma ligação bastante particular com a mídia televisiva, cuja influência alcançou a produção artística e de vídeo do país. Com três décadas de existência, o Videobrasil acompanhou de perto esta história ao criar, na década de 80, o primeiro festival dedicado a este suporte, hoje aberto a todas as linguagens contemporâneas. Em maio, dois eventos em Porto Alegre resgatam a trajetória do vídeo no Brasil e no circuito das artes, abordando ainda a estreita relação entre a imagem em movimento e a televisão nos primórdios desta história. O primeiro é a exposição VB na TV - 30 anos de Videobrasil, com abertura no dia 17 de maio, às 19h, na Galeria Mamute, e visitação pública de 20 de maio a 07 de junho. Uma semana depois, no dia 24 de maio, às 14h30, Solange Farkas, curadora geral do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, ministra a palestra 30 anos de Videobrasil – A Trajetória do Vídeo no Contexto das Artes, no Santander Cultural.
Na mostra que ocupará a Galeria Mamute, cinco telas exibirão os sete programas da 3ª temporada da série Videobrasil na TV, produzida especialmente para a última edição do Festival. A série foi dirigida por Marco Del Fiol e Jasmin Pinho e exibida exclusivamente pelo Sesc TV. Porto Alegre é a primeira cidade a receber esta exposição inédita do Videobrasil.
Os quatro primeiros programas da série fazem um retrospecto das últimas três décadas do Festival, com entrevistas com curadores e pesquisadores, além de depoimentos de artistas que se fundem a imagens históricas e trechos de suas obras. Desde o seu nascimento, impulsionado pelo avanço tecnológico da década de 80 (quando acontece um maior acesso a equipamentos de vídeo no país), o Festival surgiu como único espaço para escoar e estimular a produção de jovens realizadores que buscavam através do vídeo “revolucionar a TV do Novo Milênio”. Entre eles, nomes como Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e Marcelo Tas (CQC), que exibiram seus primeiros trabalhos no Videobrasil, são destaques dos programas que fazem parte da mostra na Galeria Mamute.
Da tentativa de invadir e subverter a TV os artistas começam a buscar uma nova linguagem. A partir da década de 90, eles passam a investir na experimentação e no uso das novas mídias, com uma produção com maior foco na videoarte. A partir dos anos 2000 a linguagem do vídeo se firma para além do suporte e o Festival se abre a novas linguagens e se internacionaliza.
Os últimos três programas são dedicados à mostra competitiva Panoramas do Sul do Festival, que na última edição recebeu mais de 2.000 inscrições e selecionou 106 obras de 94 artistas de 32 países do eixo Sul geopolítico (representado pela América Latina, Caribe, África, Oriente Médio, Europa do Leste, Sul e Sudeste asiático e Oceania, foco curatorial da mostra competitiva do Festival). Os curadores e artistas, inclusive os premiados nessa edição, discutem temáticas, estéticas e aspectos da produção artística contemporânea do Sul, posicionando o vídeo neste contexto. São debatidas questões como mobilidade; vínculos e pertencimento; memória e identidade; espaço urbano; tensão entre global e local; e apropriação e ressignificação de elementos midiáticos. Entre os entrevistados, temos artistas gaúchos que participaram da mostra, como Luiz Roque e Letícia Ramos.
Confira as sinopses dos programas no final do texto.
PALESTRA RECONTA HISTÓRIA DO VÍDEO BRASILEIRO
Na palestra 30 anos de Videobrasil – A Trajetória do Vídeo no Contexto das Artes, que acontece no Santander Cultural, no dia 14 de maio, às 14h30, Solange Farkas apresenta os antecedentes históricos da produção de vídeo no país — das primeiras produções em vídeo de artistas nacionais, como Hélio Oitica e Letícia Parente, na década de 1970, ao cenário político e cultural dos anos 80, quando surge o Festival Videobrasil. A partir deste panorama, ela analisa o percurso do vídeo no universo das artes à luz da trajetória do próprio Festival, dividida em três fases.
A primeira fase, de 1983 a 1989, é marcada por uma política de difusão, construção e estabilização do meio eletrônico no Brasil - recém saído de um período de duas décadas de ditadura militar. Um contexto em que o formato é impulsionado pelo avanço tecnológico e pelo embate estético (e político) com o establishment. Entre 1990 e 1998, acontece a consolidação e legitimação da arte eletrônica no circuito internacional das artes. Nesse momento, o Festival torna-se bienal e se afirma como plataforma de intercâmbio entre artistas, teóricos e curadores. A partir de 2000, o Festival se adentra em sua terceira e mais recente fase, fundamentando seu recorte curatorial na produção artística do eixo Sul geopolítico e, desde 2011, abrindo-se para todas as linguagens da arte contemporânea.
EM PARALELO À EXPOSIÇÃO, MOSTRA COM RESULTADO DE VIDEORESIDÊNCIA
A exposição VB na TV - 30 anos de Videobrasil entra em cartaz na Galeria Mamute junto com a mostra Paisagens Inventadas, com curadoria de Niura Borges e abertura marcada também para o dia 17 de maio, às 17h30. Esta mostra apresenta o resultado do projeto “Videoresidência Território Expandido”, que inaugurou o programa de residência artística da Galeria. Nesta primeira edição, o projeto convidou três artistas integrantes do Núcleo de Vídeo RS e três artistas de diferentes estados do Brasil. Andreia Vigo (RS), Walter Karwatzki (RS), Nelton Pellenz (RS) Adriana Tabalipa (RJ), Roderick Steel (SP), Alice Jardim (AL) e Joacélio Batista (BH) trabalharam juntos entre abril e maio deste ano, produzindo as obras inéditas de videoarte que estão na exposição. Apresentar os trabalhos em vídeo desenvolvidos por esses artistas residentes paralelamente à exposição do Videobrasil é uma oportunidade única para o público de Porto Alegre conhecer mais sobre a produção recente de vídeo no país e, ao mesmo tempo, conhecer a trajetória e a história de 30 anos do mais antigo festival dedicado a esta linguagem.
SOBRE A GALERIA MAMUTE
A Galeria Mamute representa artistas emergentes e oferece ao mercado obras de diferentes disciplinas como pintura, desenho, gravura, fotografia, instalação e vídeo. Como investigação de linguagem, o espaço dedica-se ao vídeo, com seus projetos centrados no Núcleo de Vídeo RS. Promove exposições, cursos, oficinas, palestras, orientação em vídeo, residências artísticas em vídeo, entre inúmeras ações direcionadas a fomentar a produção, reflexão e prática nas artes visuais e cruzamentos com as demais criações artísticas contemporâneas. Desempenha um forte papel na produção de conhecimento, na circulação de obras de arte e na projeção de artistas do Estado do Rio Grande do Sul e do Brasil.
SOBRE A ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL
A Associação Cultural Videobrasil dedica-se ao fomento, difusão e mapeamento da arte contemporânea, além de formação de público e intercâmbio entre artistas, curadores e pesquisadores. Destina especial atenção à produção do circuito geopolítico Sul (que compreende América Latina, Caribe, África, Oriente Médio, Europa do Leste, Sul e Sudeste asiático e Oceania). Promove a existência de uma ativa rede de cooperação internacional, atuando nas lacunas do universo da arte e no estímulo à experimentação artística. Independente e comprometida com o papel questionador da arte, tem se voltado, com crescente ênfase, para ações públicas e de ativação de seu acervo - uma representativa coleção de vídeo e performance do Sul geopolítico global.
SERVIÇO:
Exposição VB na TV | 30 anos de Videobrasil
Abertura: 17 de maio, 17h30. Visitação: de 20 de maio a 07 de junho
Galeria Mamute - Rua Caldas Júnior, 375 - Centro Histórico, Porto Alegre
Palestra 30 anos de Videobrasil | A Trajetória do Vídeo no contexto das Artes
com Solange Farkas (fundadora, diretora e curadora do Videobrasil)
Dia 24 de maio de 2014, às 14h30
Santander Cultural - Rua Sete de Setembro, 1028 - Centro Histórico, Porto Alegre
MAIS SOBRE OS PROGRAMAS
Terceira temporada da série Videobrasil na TV – resumo dos sete programas dirigidos por Marco Del Fiol e Jasmin Pinho, com destaques para alguns dos entrevistados:
Produção Independente: Televisão e Abertura Política
As questões que motivaram o surgimento do Festival no contexto das primeiras produções independentes de vídeo, da abertura política, do fim da ditadura militar e do desejo de dar visibilidade às temáticas sociais, políticas e culturais do período. Tadeu Jungle, Eder Santos, Fernando Meirelles.
Os Primeiros Anos do Vídeo: Linguagem e Tecnologia
Um retrato da cena de vídeo no Brasil no início dos anos 1980, época da popularização do suporte. Como o vídeo foi absorvido por artistas e produtores independentes com o objetivo de construir novas estéticas para a imagem em movimento. Marcelo Tas, Walter Silveira, Sandra Kogut.
Circuitos Expandidos
Ao longo dos últimos trinta anos, vídeo e imagem em movimento assumem novos lugares, estabelecendo diálogos tanto com as artes visuais quanto com o cinema. O programa retrata a gradativa abertura do Festival a outras linguagens artísticas, consolidando sua presença no circuito da arte contemporânea. Carlos Nader, Kiko Goifman, Letícia Ramos, Lucas Bambozzi.
Internacionalização: As Visões do Sul
O processo de internacionalização do Festival e a escolha do Sul geopolítico como eixo estruturador. Como o evento se tornou um lugar de intercâmbio entre artistas, teóricos e curadores, e uma plataforma de lançamento e inserção para a produção artística dessa região. Arlindo Machado, Jorge la Ferla, Chris Mello, Giselle Beiguelman.
Panoramas do Sul: Natureza e Espaço, Reconfigurações do Olhar
As diferentes formas como artistas articulam a ideia de espaço, explorando temas como a natureza, o espaço urbano, a arquitetura, a mobilidade e os vínculos de pertencimento. Entrevistas com ganhadores da mostra Panoramas do Sul, como Bakary Diallo, do Mali; Caetano Dias, do Brasil; Sherman Ong, da Malásia.
Panoramas do Sul: Memória, Identidade e Política
Obras que exploram a relação entre memória, identidade, sexualidade e a tensão entre local e global. Participação de artistas ganhadores dos prêmios de residências artísticas, como Nurit Sharett, de Israel; Ali Cherri, do Líbano; Virgínia de Medeiros, do Brasil.
Panoramas do Sul: Imaginários Contemporâneos
Sobre artistas que têm como estratégia a apropriação e ressignificação de elementos midiáticos, repensando nossos processos de subjetivação a partir do diálogo com a comunicação de massa e as redes sociais. Entre os artistas que participam do programa, Federico Lamas, da Argentina; Orit Ben-Shitrit, de Israel; Michel Zózimo, Brasil; Ezra Wube, da Etiópia.