Associação Cultural Videobrasil

Do “descobrimento” do Brasil pelos portugueses ao golpe militar no Chile, passando pelo atentado às Torres Gêmeas nos EUA, pelo massacre na Praça da Paz Celestial, na China, e pela guerra civil no Líbano... Há muitas maneiras de contar - ou tentar apagar - histórias que permanecem vivas através da sensibilidade e das obras de artistas dessas regiões. A exposição Memórias Inapagáveis - um olhar histórico no acervo videobrasil reúne trabalhos que contribuem para resgatar episódios e conflitos normalmente interpretados a partir do discurso oficial, dos narradores vitoriosos, mas que resistem em narrativas pessoais e são difundidas por meio da arte. A exposição tem curadoria de Agustín Pérez Rubio, recentemente nomeado diretor artístico do Malba (Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Argentina), que se debruçou sobre o Acervo Videobrasil para selecionar 18 trabalhos com forte conteúdo político e social. Obras raras de artistas renomados internacionalmente como os libaneses Akram Zaatari e Walid Raad, a americana Coco Fusco, a marroquinha Bouchra Khalili, o argentino León Ferrari e os brasileiros Rosangela Rennó e Jonathas de Andrade.

Com abertura para convidados no dia 30 de agosto de 2014, Memórias Inapagáveis - um olhar histórico no acervo videobrasil tem visitação de 31 de agosto a 30 de novembro no Sesc Pompeia (São Paulo, Brasil). Realizada por meio da parceria de mais de vinte anos entre o Sesc São Paulo e a Associação Cultural Videobrasil, a exposição dá continuidade às grandes mostras internacionais que acontecem no período entre edições do Festival produzido pelas duas instituições e que já apresentaram em São Paulo obras de artistas como Joseph Beyus, Olafur Eliasson, Isaac Julien, Peter Greenway e Sophie Calle. Mas Memórias Inapagáveis é um marco importante, pois é a primeira grande exposição a partir do acervo da Associação, que atualmente conta com mais de 3.000 títulos entre publicações, documentos e cerca de 1.300 obras em vídeos produzidas desde a década de 80 aos dias atuais por artistas de países da América Latina, África, Oriente Médio, Leste Europeu, Sul e Sudeste Asiático e Oceania - que formam o Sul Geopolítico e são foco curatorial do Videobrasil. Agustín Peréz Rubio, reconhecido por sua extensa experiência em curadorias a partir de pesquisas em coleções de museus e instituições, mergulhou neste universo complexo e heterogêneo a convite da curadora geral e diretora da Associação Cultural Videobrasil, Solange Farkas. Ele selecionou obras que possuem em comum temas como a violência de Estado, as fronteiras políticas e o preconceito.

Em Vera Cruz (2000), Rosangela Rennó cria um “filme impossível” sobre a descoberta do Brasil, inicialmente batizado de Ilha de Vera Cruz. Inspirada na carta escrita por Pero Vaz de Caminha para o Rei de Portugal, a obra recria essa história sob a ótica do homem comum. Numa película gasta pela passagem de meio milênio, restam legendas e o espanto dos marinheiros com o Novo Mundo. In This House (2004), do libanês Akram Zaatari, desenterra o passado ao registrar as implicações pessoais da invasão de Israel a uma vila do Líbano. No vídeo Casa Blanca, produzido pelo argentino León Ferrari em parceria com o conterrâneo Ricard Pons, minhocas são jogadas e rastejam por uma maquete da White House, sede do poder executivo dos Estados Unidos da América. Se elas oxigenam o local como fazem com a terra, não é possível dizer. A violência de Estado está no cerne da performance Bare Life Study #1 (2005), que a norte-americana Coco Fusco realizou em frente à Embaixada dos EUA em São Paulo e faz parte da exposição como registro em vídeo. Em Projecto Pacífico, o brasileiro Jonathas de Andrade cria uma ficção na qual o Chile vaga pelo Oceano Pacífico após um terremoto separá-lo do resto do continente. Um cataclisma que é ao mesmo tempo solução violenta e metáfora para questões políticas e de construção de memória do país. Da marroquina Bouchra Khalili, a exposição apresenta Four Selected Videos from The Mapping Journey Project. Nele, sobre o traçado exato e frio de um mapa mundi, imigrantes narram as sinuosas e comoventes histórias de seus deslocamentos. Rotas traçadas com caneta e memória. 

Memórias Inapagáveis - um olhar histórico no acervo videobrasil apresenta ainda obras como O Sangue da Terra, de Aurélio Michiles (Brasil), que trata o abuso e o desprezo perante a comunidade indígena; Barrueco, de Ayrson Heráclito e Danillo Barata (Brasil), sobre o tráfico de escravos vindos da África para o Brasil e outros países; Contestado, a Guerra Desconhecida, de Enio Staub (Brasil), que aborda as lutas agrárias do início do século 20; Unforgettable Memory, de Liu Wei (China), sobre o massacre da Praça da Paz Celestial; Lucharemos Hasta Anular La Ley, de Sebastian Diaz-Morales (Argentina), que aborda a espetacularização de conflitos sociais pela mídia; e Letter to My Father – Standing by the Fence, de Carlos Motta (Colombia), sobre o atentado de 11 de Setembro. Também participam da exposição obras do brasileiro Luiz de Abreu, do francês Vincent Carelli (que participa da exposição em parceria com Dominique Gallois, da Bélgica), de Dan Halter (Zimbábue), Mwangi Hutter (Quênia) e Rabih Mroué (Líbano). Segue lista de obras e artistas abaixo.

No período da visitação da exposição vão acontecer ainda encontros com artistas, curadores e pesquisadores, como parte integrante dos Programas Públicos, conjunto de estratégias do Videobrasil para potencializar e amplificar o alcance da exposição.

SERVIÇO:

Memórias Inapagáveis - um olhar histórico no acervo videobrasil | Curadoria de Agustín Pérez Rubio
abertura: 30 de agosto | visitação: 31 de agosto a 30 de novembro de 2014
Sesc Pompeia – Galpão — São Paulo - Brasil

SOBRE O CURADOR

Agustín Pérez Rubio é historiador, crítico de arte e curador. Recentemente, foi nomeado diretor artístico do MALBA - Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Argentina) e é ex-diretor do MUSAC - Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León (Espanha). Agustín fez a curadoria de mais de setenta exposições para importantes instituições, como o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia (Espanha), e para a Bienal de Veneza. É membro do CIMAM - International Committee for Museums and Collections of Modern Art do AICA- International Association of Art Critics e do IKT - International Association of Curators of Contemporary Art.  Também desenvolve programas públicos e educativos, ministrando palestras e seminários para instituições como o Centro George Pompidou, em Paris, e Independent Curators International (ICI), em Nova York.  Foi convidado do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, produzindo um relato sobre os 30 anos do Festival, publicado como artigo na revista de arte internacional South as a State of Mind.

ARTISTAS E OBRAS

1. Akram Zaatari - In this House, 2004, vídeo (Líbano)
2. Ayrson Heráclito  e Danillo Barata - Barrueco, 2004, vídeo (Brasil)
3. Aurélio Michiles - O Sangue da Terra, 1984  (Brasil)
4. Bouchra Khalili - Four selected videos from The Mapping Journey Project, 2008-2011, videoinstalação (Marrocos)
5. Carlos Motta - Letter to My Father (Standing by the Fence),2005, vídeo (Colômbia)
6. Coco Fusco - Bare Life Study *1, 2005, vídeo (EUA)
7. Dan Halter - Untitled (Zimbabwean Queen of Rave), 2005, vídeo (Zimbábue)
8. Enio Staub - Contestado, a Guerra Desconhecida, 1985, vídeo (Brasil)
9. Jonathas de Andrade - Projecto Pacifico, 2010. videoinstalação (Brasil)
10. León Ferrari & Ricardo Pons - Casa Blanca, 2005, vídeo (Argentina)
11. Liu Wei - Unforgettable Memory, 2009, vídeo (China)
12. Luiz de Abreu - Samba do Crioulo Doido, 2013, vídeo (Brasil)
13. Mwangi Hutter - My Possesion, 2005, vídeo (Quênia)
14. Rabih Mroué - Face a Face B, 2002, vídeo (Líbano)
15. Rosangela Rennó - Vera Cruz, 2000, vídeo (Brasil)
16. Sebastian Diaz-Morales - Lucharemos Hasta Anular la Ley, 2004, vídeo (Argentina)
17. Vincent Carelli e Dominique Gallois- A Arca dos Zo'e 1993, vídeo (França/Bélgica)
18. Walid Raad - The Loudest Muttering is Over: Documents From The Atlas Group Archive, 2003, vídeo (Líbano)