Arte contra a amnésia | Memórias Inapagáveis – um olhar histórico no acervo videobrasil

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postado em 05/08/2014
Exposição apresenta a força das narrativas pessoais na construção da memória social de países marcados por conflitos, com curadoria realizada a partir do acervo dedicado a preservação e difusão da produção artística em vídeo do eixo Sul Geopolítico

Memórias Inapagáveis – um olhar histórico no acervo videobrasil é a primeira grande exposição realizada a partir da coleção da Associação Cultural Videobrasil, marcando um importante momento na trajetória da instituição. Com curadoria do historiador espanhol Agustín Pérez Rubio, a mostra possui caráter geopolítico ao apresentar 18 obras em vídeo, videoinstalações e registros de performances que revelam a memória social e política de dez países marcados por histórias semelhantes de conflitos e violência. Produzidas desde a década de 80 aos dias atuais, estas obras revelam também a potência do acervo da instituição, comprometida com a divulgação da produção artística do Sul global -  formado por países da América Latina, África, Oriente Médio, Leste Europeu, Sul e Sudeste Asiático e Oceania - e de artistas seminais da arte contemporânea.

Memórias Inapagáveis é uma realização do Sesc São Paulo e da Associação Cultural Videobrasil - parceiros desde 1992 na realização do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil e de exposições de grandes artistas internacionais como Olafur Eliasson, Peter Greenway, Joseph Beyus, Sophie Calle e Isaac Julien. Mas é o primeiro  projeto das duas instituições dedicado a promover curadoria a partir do Acervo Videobrasil, composto por cerca de três mil títulos – entre obras, registros, documentários, documentos, publicações -  reunidos ao longo dos últimos 30 anos.

“Mais do que a salvaguarda e o cuidado com a coleção, o que nós buscamos é a ativação e a recontextualização das obras do nosso acervo”, ressalta Solange Farkas, fundadora e diretora do Videobrasil, apontando uma das principais diretrizes da instituição, que é tornar seu acervo uma fonte permanente para novos projetos curatoriais e de pesquisa. A Associação já atende a pesquisadores e curadores com visitas sob agendamento em sua sede atual. Mas o plano é abrir em breve uma nova casa, com espaço para visitação e consulta públicas. Memórias Inapagáveis surge nessa perspectiva, de possibilitar a ativação da coleção a partir de novos olhares. “Agustín Pérez Rubio estabelece aproximações entre obras de períodos diversos, traz elementos da década de 80 para o contexto atual, resgata, atualiza, ativando o acervo e contribuindo com a missão do Videobrasil”, completa Solange Farkas.


Artistas resgatam episódios históricos de 10 países


Liu Wei, "Unforgettable Memory", 2009, vídeo. © Acervo Videobrasil


Memórias Inapagáveis apresenta trabalhos dos artistas Akram Zaatari (Líbano), Ayrson Heráclito e Danillo Barata (Brasil), Aurélio Michiles (Brasil), Bouchra Khalili (Marrocos), Carlos Motta (Colômbia), Coco Fusco (EUA), Dan Halter (Zimbábue), Enio Staub (Brasil), Jonathas de Andrade (Brasil), León Ferrari & Ricardo Pons (Argentina), Liu Wei (China), Luiz de Abreu (Brasil), Mwangi Hutter (Quênia), Rabih Mroué (Líbano), Rosângela Rennó (Brasil), Sebastian Diaz Morales (Argentina), Vincent Carelli e Dominique Gallois (França/China) e Walid Raad (Líbano). Em suas obras, episódios como a colonização, a subjugação de povos, o tráfico de escravos, invasões, regimes políticos autoritários, guerras e discriminação racial são revelados, desvelando sentidos e provocando também o debate entre os limites da verdade e da ficção na construção da memória social.

“Violência, guerra, fronteiras, raça, sexo, gênero, escravidão continuam nos atormentando. Queremos que a arte nos devolva esta coleção de experiências vividas, tanto as belas quanto as mais cruéis e inumanas, para aprendermos constantemente com elas”, reforça Agustín. Para ele, Memórias Inapagáveis é um projeto contra a amnésia histórica, termo utilizado para se referir ao que acontece quando as pessoas se esquecem de grandes acontecimentos, normalmente negativos, lembrando apenas de maneira seletiva do passado. O título da exposição é o mesmo de Unforgettable Memory (imagem), trabalho do artista chinês Liu Wei - um dos premiados no 17º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil (2011), do qual Agustín Pérez Rubio foi membro da comissão de seleção -  ponto de partida de sua investigacão no Acervo Videobrasil.  Neste vídeo, Wei exibe aos compatriotas a célebre foto do homem que enfrenta tanques de guerra na Praça da Paz Celestial. Temerosos, os entrevistados se recusam a comentar o assunto. Liu Wei participou daquelas manifestações e, nesta obra, homenageia os que morreram, enquanto lamenta pelos que preferem esquecê-las. “Uma coleção é mais importante e interessante à medida que nos devolve experiências únicas, vividas e sentidas por artistas que nos fazem recordar tanto outros mundos possíveis, assim como aqueles em que estamos. E o Acervo Videobrasil tem esta potência”, finaliza o curador.

Para o público que visitar a exposição, que fica em cartaz até o dia 30 de novembro, será possível ter acesso as outras obras do Acervo Videobrasil por meio da Videoteca, instalada em terminais dentro do espaço expositivo. Nela, estão disponíveis cerca de 1300 vídeos, incluindo obras selecionadas pelo Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, vídeos históricos e antologias de artistas, registros de performances e documentários produzidos pela Associação.


Clique aqui para saber mais sobre Memórias Inapagáveis


Serviço:

Memórias Inapagáveis – um olhar histórico no acervo videobrasil
Abertura: 30 de agosto
Visitação: de 31 de agosto a 30 de novembro

Sesc Pompeia | Rua Clélia, 93, São Paulo - SP
Visitação: de terça a sábado, das 10 às 22h | Domingos e feriado, das 10 às 20 h