Carlos Motta
O trabalho multidisciplinar de Carlos Motta identifica e discute opressões sociais, econômicas, de gênero e de sexualidade a partir da história política, com especial foco sobre a identidade latino-americana – a sua própria.
Em 2004, Motta foi selecionado para uma residência artística em Nova York, onde vive atualmente. Do ateliê localizado no oitavo andar de um prédio era possível ver o grande referente do 11 de setembro de 2001: a cratera chamada de Marco Zero. Letter to My Father (Standing by the Fence) é a reflexão do artista sobre os aspectos simbólicos da experiência do 11/9 em relação a sua bagagem pessoal.
Canal VB: Carlos Motta fala sobre sua participação no 15º Festival (2005)
Produzida em 2005 – ano em que participou do 15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil –, Letter to my Father (Standing by the Fence) é uma de suas primeiras obras e serve como base para a articulação de seu posicionamento político e intelectual com sua produção artística. O título do vídeo remete ao livro Carta ao Pai, de Franz Kafka, sobre um adolescente que tem dificuldade em aceitar seu pai como figura de autoridade. Em depoimento à PLATAFORMA:VB, Motta escreve: “foi interessante a ideia de transformar o Estado, o governo, minha experiência como imigrante neste país, na figura paterna, a figura da autoridade”.
No vídeo, pessoas que passam pela cerca descrevem literalmente o que veem. Narrações em tom jornalístico falam do grande centro econômico e de sua redução a toneladas de escombros. Ouve-se o ovacionado presidente George W. Bush discursar: “aqui, prédios caíram. Aqui, uma nação se ergueu”. As falas são seguidas pelo depoimento do artista que, em camadas semânticas, explica o papel da cerca como separador, divisor de território, símbolo de segurança, signo de propriedade e poder. Esta, em particular, indica “morte, dano, má gestão política, intolerância e a mais egrégia consequência do capitalismo: ganância. (...) Ela justifica a guerra e a continuação de uma busca nascida do orgulho”. O ponto de vista do imigrante, externo, nos alerta aos perigos de historicizar o presente, de exacerbar o nacionalismo como resposta ao ataque. Os diferentes níveis da crítica de Carlos Motta são apreendidos pelo crítico e curador Octavio Zaya, que nota que o vídeo se concentra sobre os efeitos do ataque sem sensacionalizar o terror, o que teria servido apenas para “distrair e deslocar, uma vez mais, a atenção das possíveis causas desses efeitos”, como se o episódio fosse “único, produto fortuito, sem sentido alheio aos problemas políticos que ocasionam o colonialismo, a opressão, o deslocamento, o racismo, etc.”. Posteriormente, o artista reflete sobre questões pessoais como a saúde de sua mãe, afetada pelo incidente, e sua inédita condição de Outro – favorecido na Colômbia “por um capitalismo herdado que subjugou muitos em favor de alguns”, o artista é agora submetido à identidade de imigrante.
Aos 36 anos, Carlos Motta já participou de exposições na Tate (Londres, Inglaterra), no New Museum, no Guggenheum Museum e no MoMA PS1 (todos em Nova York, EUA), no Museu de Arte del Banco de la República (Bogotá, Colômbia), no Witte de With (Roterdã, Holanda).
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