Liu Wei
Liu Wei busca na recente história da China e nas veladas formas de controle exercidas pelo governo o principal tema de sua obra, exibida em reconhecidos eventos e instituições nos EUA, na Europa e na Ásia (a exemplo do MoMA PS1 em Nova York, do Centre Pompidou em Paris, e da Bienal de Sharjah nos Emirados Árabes Unidos), e em três edições do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil. No entanto, devido ao seu teor contestatário, ela nunca foi exibida na China – premiado com uma residência artística na América Latina por Unforgettable Memory (2009), o artista não foi autorizado a deixar o país.
Foi justamente a partir do contato com essa obra, exibida no 17º Festival, em 2011, que Agustín Pérez Rubio - que foi um dos membros da comissão de seleção desta edição - iniciou sua investigação dentro do Acervo Videobrasil. Neste vídeo, Wei exibe aos compatriotas a mundialmente conhecida imagem do homem que enfrenta tanques de guerra com sua mera presença. Os entrevistados se recusam a falar sobre o assunto e até mesmo afirmam desconhecê-lo. “Por preocupação com sua própria segurança ou por causa de sua própria realidade, as pessoas tendem a evitar o tema cuidadosamente”, afirma o artista em depoimento disponível na PLATAFORMA:VB.
O esquecimento coletivo é compensado pelos relatos e registros de Wei, que tomou parte nos protestos na Praça da Paz Celestial violentamente reprimidos pelo governo de Deng Xiaoping em 1989 – Wei retoma a história universal através de suas lembranças particulares fazendo uso de pistas da sua própria memória para conectar história e realidade. O artista atribui hipocrisia e fraqueza aos que se negam a lembrar e afirma: “gostaria que essas imagens despertassem nossa memória e recobrassem nossa consciência. Não podemos construir nosso futuro baseado em mentiras. Espero que possamos resistir a esta sociedade indiferente à nossa memória”.
Em texto para o livro da exposição, Ivana Bentes entende Unforgettable Memory como um “manifesto atemporal e trágico” sobre o “o sentimento de impotência diante da morte, diante do esquecimento, diante das imagens fotográficas e do que restou dos corpos em revolta dos estudantes e manifestantes chineses confrontados com o poder”.
A alienante e forjada prosperidade da China – divulgada oficialmente de maneira ostensiva e aliada à ideia de um país em progresso, abertura econômica e crescente expansão globalizada – também serve de pano de fundo para as obras SARS (2003) e Underneath (2001), que fazem parte do Acervo Videobrasil.
Mais sobre o artista: