Rabih Mroué
Dedicado às artes visuais, ao teatro e à dramaturgia, Rabih Mroué é um dos proeminentes nomes das artes visuais e da performance no Líbano, tendo participado das últimas edições de eventos como a Documenta (Kassel, Alemanha) e a WRO Media Art Biennale (Wroclaw, Polônia). Fundador do Beirut Art Center, dedicado à arte contemporânea e, em especial, ao suporte aos artistas locais, Mroué conheceu os danos da guerra civil libanesa que permeariam a sua produção aos oito anos de idade – ou pelo menos é isso que ele nos conta.
Canal VB: Rabih Mroué fala sobre a relação entre narração e sonho em Face A Face B
A narrativa de Rabih Mroué aproxima fatos reais e fantasiados com a mesma credibilidade. O artista compara as memórias entrecortadas que compõem a “realidade” a elementos oníricos: “não consigo me lembrar de nenhum sonho por completo. Eu preencho as lacunas. Tenho fragmentos da minha infância, então também tento preencher as lacunas. Eu crio novos eventos, nova vida, novas histórias”, declara ao Videobrasil.
De acordo com o curador Inti Guerrero, responsável pelo texto sobre o artista e sua obra no livro Memórias Inapagáveis, o trabalho de Mroué se liga à “tórrida macro-história” do período de conflito sem recorrer à “reivindicação sentimental das vítimas da guerra” ou a “representações viscerais da violência”. Ressalta ainda que mais relevante do que a veracidade dos fatos expostos é a habilidade de Mroué para “conectar memórias pessoais à história não só produzindo uma obra de arte, mas propondo sua semiótica própria”.
Em Face A, Face B, relatos gravados em fita cassete testemunham o cotidiano do artista e de sua família em meio ao conflito. As fitas, que tinham como propósito dar notícias ao irmão que estudava na União Soviética, denunciam primeiramente as interferências tênues da guerra: a mudança de endereço, o sotaque adquirido neste novo lugar – o sul do país. Foi em 1978 que tropas israelenses ocuparam a região com o objetivo de liquidar as bases da Organização para a Libertação da Palestina no país. O filme progride até o riso da mãe, acostumada à guerra, e o relato de um bombardeio que teria atingido sua residência no ano de 1989 – segundo o artista, seu nome constava na lista de feridos. Na tentativa de recordar o passado, Mroué busca em vão por fotografias que correspondam à voz gravada ou, pelo outro lado, por vozes que correspondam às imagens exibidas. O narrador, que diz ser o único sobrevivente à época da criação de Face A, Face B, pôde finalmente combinar sua voz à sua imagem – o vídeo como meio, a vida como possibilidade.
Face A, Face B, inserido no Acervo Videobrasil através do 14º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, também faz parte da coleção de museus como o Museu d'Art Contemporani de Barcelona e do Neuer Berliner Kunstverein, em Berlim.
Mais sobre o artista: