• Jonathas de Andrade, Projeto Pacifico, 2010, videoinstalação

    Jonathas de Andrade, Projeto Pacifico, 2010, videoinstalação

Jonathas de Andrade

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postado em 14/08/2014
Artista brasileiro reflete sobre possibilidades geopolíticas para a América do Sul

Um dos mais proeminentes artistas de sua geração, o brasileiro Jonathas de Andrade tem obras em coleções como a do Guggenheim Museum (Nova York, EUA), do Instituto Inhotim (Brumadinho, Brasil), do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Brasil) e da Tate Gallery (Londres, Reino Unido). Jonathas esteve entre os selecionados para a 29ª Bienal Internacional de São Paulo (2010) pelo curador Moacir dos Anjos, que enaltece sua capacidade de identificar projetos utópicos do passado na tentativa de entender por que falharam.


Interessado em compreender a identidade latino-americana e o passado da América do Sul, Jonathas viajou por seis países entre 2009 e 2010. “O ponto de partida era o fato de os brasileiros se sentirem muito mais brasileiros que latino-americanos, além de certa amnésia histórica brasileira em relação à região, que eu pensava ser relacionada a um mal estar pós-ditadura”, revela à PLATAFORMA:VB. As suas viagens resultaram na série Documento Latinoamerica – Condução à Deriva, da qual faz parte a videoinstalação Projeto Pacífico (2010), que integra a coleção do Videobrasil desde que foi selecionada para a mostra competitiva Panoramas do Sul da 17ª edição do Festival (2011).

O artista sugere novas possibilidades geopolíticas ao desprender o Chile do continente por um terremoto. Ao lado desse novo mapa chileno é exibido um vídeo filmado em super 8 e animado em stop motion, que apresenta memórias do país que sofreu com a sucessão de regimes políticos tão opostos, como os de Salvador Allende e Augusto Pinochet. A obra também suscita questões históricas e geográficas da Bolívia, que perdeu seu litoral para o Chile na Guerra do Pacífico (1879-1883) – a canção que encerra o filme é uma mensagem de alento aos bolivianos que ainda padecem com a questão. O terremoto pode ser compreendido como metáfora para instabilidades sociais e políticas, e suas implicações só podem ser imaginadas.

Em texto que será integralmente publicado no livro Memórias Inapagáveis, o curador Pablo León de la Barra entende o terremoto como uma abertura para a possibilidade de transformação: “o abalo sísmico é um modo de lidar com os efeitos do pós-trauma sofrido sob o regime militar repressor de Pinochet, mas também um modo de negociar e abrir mão de histórias e fronteiras nacionais construídas”.

A obra levanta uma série de questões desconfortáveis em relação ao Chile e à sua posição na América Latina hoje, como queixas sobre seu isolamento político e geográfico, sobre uma “elite extremamente conservadora que tinha aniquilado o que havia de mais autóctone naquela cultura” e uma possível “arrogância das políticas oficiais”, como aponta o artista.
 

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