• Enio Staub, Contestado, a Guerra Desconhecida, 1985, vídeo

    Enio Staub, Contestado, a Guerra Desconhecida, 1985, vídeo

Enio Staub

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postado em 14/08/2014
Documentário retrata conflito dos anos 1920 e paralelos com a situação política atual

Enio Staub é diretor e roteirista de cinema e televisão. Sua produção politicamente engajada inclui o média-metragem Cone Sul (1983) que abordou, durante a ditadura militar, os temas dos refugiados políticos e da Operação Condor. Foi também o diretor de Movimento (1987), primeira série de TV brasileira a documentar as organizações populares no país.


O documentário Contestado, a Guerra Desconhecida (1986) foi produzido no momento da redemocratização do Brasil. É nesse período que, no interior paranaense, organiza-se o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Como aponta a curadora Manuela Moscoso em texto para o livro de Memórias Inapagáveis, o documentário “deve ser associado a esse contexto e à atmosfera política do Brasil na época”.

O vídeo relembra o conflito ocorrido entre 1912 e 1916 no Paraná e em Santa Catarina. A estrada de ferro São Paulo-Rio Grande foi construída na região pela empresa norte-americana Union Farqhuar, com o apoio dos coronéis e do governo brasileiro. O empreendimento exigiu a contratação de milhares de trabalhadores e a desapropriação de terras. Concluída a obra, o grande grupo de operários desempregados e camponeses desalojados originou o levante popular que atuaria na Guerra do Contestado. Uma das maiores revoltas nacionais, o Contestado foi considerado um novo Canudos e, como a campanha baiana, também tinha um incentivador místico – seu líder messiânico era o monge José Maria. Com a organização do movimento se formou o Exército Encantado de São Sebastião. O número de revoltosos, como conta o filme de Staub, chegou a 20 mil. Foram muitas as investidas do Exército Brasileiro até a captura do último líder, Adeodato. A repressão à Guerra do Contestado foi o primeiro grande teste do Exército Brasileiro moderno. Foi também a primeira vez que a aviação atuou militarmente na América do Sul. Estima-se que mais de 20 mil pessoas – ou um terço da população catarinense – tenham morrido em combate.

O filme recupera fotografias e filmes da época, encomendados pela Union Farquhar. A pesquisa se baseia principalmente em fontes orais. Conforme Enio Staub relata à PLATAFORMA:VB, sua equipe contou com a “longevidade e, fundamentalmente, com a memória dos depoentes”. Manuela Moscoso ressalta que esta foi afinal uma guerra civil, “povo contra povo”, e o obra quer que o espectador se dê conta disso. “Ao longo do filme, ouvimos todas as perspectivas envolvidas no conflito: os derrotados, os vencedores e aqueles que não tomaram partido”.

Contestado, a Guerra Desconhecida - que passou a integrar o Acervo Videobrasil através da 3a edição do Festival (1985) - segue atual em seu questionamento sobre a necessidade da reforma agrária. “Na época da conclusão da pesquisa documental, o movimento de terra já estava crescendo e as primeiras cenas do documentário foram colhidas no acampamento de sem-terras na região de Chapecó. Foi uma maneira de demonstrar que aquilo que parecia somente histórico era um tema atual, e é até hoje”, declara Staub.

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