O papel do público
O terceiro e último vídeo da série Mixtape: Videobrasil foi apresentado na noite de 18 de setembro, no Sesc Campinas. Como parte das atividades propostas pelos Programas Públicos do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, curadores e artistas foram convidados a desenvolver ativações para as mostras. Paulo e Ricardo Miyada produziram a série para ponderar sobre o crucial papel desempenhado pelo público: o de completar o sentido das obras com seus repertórios e históricos pessoais.
Paulo e Ricardo propõem dar maior importância à participação do público, que deve ser colocado não mais como figurante, mas como “coadjuvante, pelo menos” das obras e exposições. No projeto Mixtape: Videobrasil, consideram que, frequentemente, o público não é tratado desta forma, mas em termos de “censo” ou “população”.
Mixtape: Videobrasil Campinas reflete sobre o caráter incompleto da obra de arte, que precisa do público para finalizá-la. Aborda ainda a identificação deste público variado com um conjunto de obras igualmente heterogêneo, o papel da mediação e a dificuldade do ser humano em criar projeções para o futuro.
“Muito se fala sobre as exposições, curadorias, carreiras dos artistas, e muito pouco sobre o público”, afirmou o diretor Paulo Miyada. “Dedica-se menos página, menos texto, menos reflexão registrada sobre o público”, que conclui as obras e exposições com suas múltiplas leituras. “A obra é um presente dado a um presenteado desconhecido. A leitura do público é uma recíproca aos trabalhos dos artistas. É necessário que alguém as receba [as obras] e leia para que elas existam”, declaram no vídeo.
Assista aos eventos dos Programas Públicos onde foram exibidos os filmes da série Mixtape: Videobrasil, ambos disponíveis no Canal VB. O registro do terceiro encontro estará disponível em breve.
Sobre a trilogia Mixtape: Videobrasil
Atentos ao conjunto diverso que atua com a obra de arte, os Miyada optaram por abordar diferentes públicos em cada um dos vídeos: no primeiro, aquele que chamaram de “especializado”; no segundo, o “espontâneo” e no terceiro, o “potencial”. Os três aparecem no vídeo final da série Mixtape: Videobrasil Campinas – o primeiro e o segundo através de personagens e cenas introduzidos anteriormente e agora reinseridos neste volume da trilogia.
Os vídeos tiveram cada vez menos especificidades e roteirizações, tornando-se progressivamente mais amplos. No primeiro, um casal fictício já familiarizado com o ambiente artístico e os valores estéticos (um designer e uma arquiteta) receberam palavras-chave que norteavam o vídeo, embora não houvesse um script a seguir. No segundo, com crianças, os realizadores não esperavam que elas fossem capazes de sustentar um longo discurso sobre certos assuntos sem estímulo – tratava-se de um público em pleno processo de formação. Portanto, a discussão era não conduzida, mas alimentada por interlocutores.
No terceiro, a abstrata pergunta “como vai ser a vida daqui a 30 anos?” foi posicionada por uma jovem entrevistadora grávida ao público que chegava ao Sesc Campinas ou que visitava a mostra em sua noite de abertura. Os 30 anos, que poderiam ter sido definidos arbitrariamente, pretendem uma conexão com os 30 anos do Festival, completados em 2013 e celebrados dentro da 18ª edição. O questionamento pode ter sido, na opinião de Paulo e de Ricardo, posicionado precocemente. O público não estava devidamente imerso no conteúdo da exposição e a sutileza da gravidez da entrevistadora – para quem as respostas ou projeções teriam grande relevância – não reverberou da maneira imaginada. Paulo Miyada alegou que, precisamente por estarmos em um momento presente tão surpreendente, poderiam ter sido criados, com facilidade, inúmeros exercícios de projeção para o futuro.