Videobrasil Pop-Up na Pinacoteca
Em diálogo com a exposição Somos muit+s: experimentos sobre coletividade, em cartaz até 28 de outubro de 2019, três programas de filmes do Acervo Histórico Videobrasil serão apresentados na Pinacoteca nos dias 24 de agosto, 7 de setembro e 12 de outubro, das 14h30 às 17h30. A ação faz parte do projeto Videobrasil Pop-Up, série de screenings em parceria com diferentes museus e instituições da cidade de São Paulo.
Assim como as obras de Somos muit+s, os filmes apresentados dialogam com a produção de Joseph Beuys e com o potencial da arte para transformação, abordando conceitos como cooperação, criatividade e participação coletiva. Com curadoria de Solange Farkas, diretora do Videobrasil, e pesquisa de Ruy Luduvice, coordenador do Acervo, os três programas reúnem sete vídeos que tocam direta ou indiretamente a criação de novos mundos e a imaginação de formas alternativas de sociabilidade.
Há por exemplo “Futebol” (dentro do Programa 1), em que o episódio de racismo envolvendo o jogador brasileiro Grafite e o argentino Leandro Desábato, em abril de 2005, serve de ponto de partida à performance do coletivo 3 de Fevereiro. Em “Unforgettable Memory” (parte do Programa 2), o artista chinês Liu Wei parte de um âmbito íntimo para falar do massacre dos estudantes chineses que confrontaram o poder na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989. Em “As pérolas, como te escrevi” (parte do Programa 3), de Regina Parra, imigrantes ilegais provenientes da Bolívia, Peru, Colômbia, Argentina, Congo e Guiné são convidados a ler trechos da carta “Mundus Novus”, de Américo Vespúcio, gerando uma polifonia que questiona a condição do estrangeiro, as relações de poder e a violência cultural.
Se uma das grandes noções advindas de Beuys é aquela de escultura social, talvez pudéssemos falar aqui de um vídeo social, em que os artistas criam estruturas a partir da linguagem audiovisual, buscando transformar a sociedade ou o ambiente.
Veja abaixo o programa completo.
PROGRAMA 1
Parallel | 2017 | 29'55" | JIWON CHOI | Coreia
Uma montagem frenética entremeia elementos da vida sul-coreana – K-Pop, exércitos em marcha, programas de auditório, a primeira presidenta, o líder supremo, Samsung, Gangnam style – e silêncios. O avô da artista conta sua fuga do Norte para o Sul, quando os exércitos cruzaram o paralelo que divide o território desde o fim da Segunda Guerra. Um retrato de conflitos entre realidades e ideologias dentro do qual o público é convidado a entrar.
Futebol | 2005 | 40’| FRENTE 3 DE FEVEREIRO | Brasil
O episódio de racismo envolvendo o jogador brasileiro Grafite e o argentino Leandro Desábato, em abril de 2005, serve de ponto de partida à performance do coletivo, que trabalha com intervenções urbanas e é formado por Daniel Lima, Achiles Luciano, André Montenegro, Cibele Lucena, Eugênio Lima, Felipe Teixeira, Fernando Coster, Fernando Sato, Julio Dojcsar, Maia Gongora, Maurinete Lima, Maysa Lepique, Nô Cavalcanti, Pedro Guimarães, Sônia Montenegro, Roberta Estrela D’Alva e João Nascimento.
PROGRAMA 2
Unforgettable Memory | 2009 | 10'15" | LIU WEI | China
Para falar do massacre dos estudantes chineses que confrontaram o poder na Praça da Paz Celestial em Pequim, em 1989, Liu Wei parte de um âmbito íntimo e, ao mesmo tempo, transpessoal. A fotografia de um homem que enfrenta sozinho uma fileira de tanques de guerra na praça, dominada pelas tropas chinesas, uma das imagens mais icônicas do século 20, é a senha para acessar a memória bloqueada pelo medo e pela censura. O artista aborda passantes e indaga sobre ela. As respostas se repetem, sempre negativas e evasivas; é tabu falar do acontecimento.
H2 | 2010 | 26'43" | NURIT SHARETT | Israel
A obra é um relato do tempo em que a artista passou em Hebron, na Cisjordânia, dando aulas de vídeo para jovens palestinas. O título alude à condição de uma cidade dividida em duas seções de comunicação controlada, uma governada pela Autoridade Nacional Palestina, a outra, por Israel, apesar de habitada por 99,98% de palestinos. Sharett dirige seu olhar ao cotidiano das mulheres com quem convive, atenta aos aspectos culturais e políticos de viver numa cidade partida.
In This House | 2004 | 30' | AKRAM ZAATARI | Líbano
In This House é centrado na história de Ali Hashisho, fotojornalista que militou na resistência libanesa junto ao Partido Democrático Popular do país e liderou uma milícia que ocupou por seis anos uma casa de cristãos em Ain el Mir. A casa foi ocupada à força pelas milícias pró- palestinas após a retirada das tropas israelitas de Sídon, em um momento em que novas frentes de batalha se desenhavam no mapa. Quando as milícias foram desmanteladas, em 1992, Ali Hashisho escreveu uma carta e a enterrou dentro de uma carcaça de explosivos no jardim da casa. Seus destinatários seriam os proprietários da casa, caso pudessem regressar após o conflito.
PROGRAMA 3
As pérolas, como te escrevi (versão monocanal) | 2011 | 4’41’ | REGINA PARRA | Brasil
Imigrantes ilegais que vivem em São Paulo, provenientes da Bolívia, Peru, Colômbia, Argentina, Congo e Guiné, são convidados a ler trechos da carta Mundus Novus, de Américo Vespúcio. Escrito entre 1503 e 1504, esse relato é tido como o discurso inaugural sobre o Novo Mundo, diante de uma Europa que ainda não o conhece.Do peculiar sotaque e entonação de cada imigrante, nasce uma polifonia que questiona a condição do estrangeiro e discute o significado de viver entre duas fronteiras, assim como as contradições, as relações de poder e a violência cultural que uma língua estranha é capaz de impor.
A obra foi comissionada pela Associação Cultural Videobrasil, e realizada durante residência na Casa Tomada, em São Paulo, entre abril e julho de 2011.
Mau Wal: Encontros traduzidos | 2002 | 52'41" | FABIANA WERNECK BARCINSKI, MARCO DEL FIOL | Brasil
O brasileiro Maurício Dias e o suíço Walter Riedweg costumam dizer que seu ateliê são as ruas. Da observação dos espaços urbanos e das pessoas que os povoam surgem os projetos e instalações que criam juntos desde a década de 1990. Centradas nas idéias de encontro, identidade e territorialidade, suas obras tocam questões socioculturais e partem de interferências em grupos e situações específicas, que são documentadas e transformadas em instalações. Imediatamente associáveis à arte pública, elas vão muito além dessa fronteira.