Entrevista 09/2004
Como você começou na produção de imagens? Qual foi o impulso inicial?
O impulso inicial para a produção de imagens foi a incapacidade verbal de comunicação, além de a televisão me ajudar em um propósito maternal, usando-a como companhia. Poderia dizer que tive uma relação incestuosa com a televisão.
Algumas de suas obras buscam no cinema, na imagem do cinema, uma referência direta. Algumas vezes manipulando, comparando ou aproximando imagens muito significativas da história do cinema. Qual é a relação entre o seu trabalho, o cinema e essas imagens especificamente? Existe algum desejo de mudar o significado das imagens, de colocá-las próximas de outro tempo, mais típico do vídeo?
A principal relação entre o meu trabalho e o cinema é a utilização deste como ponto de partida para a realização de novos significados, sem que seja necessária a anulação do significado preexistente, como por exemplo no trabalho Schizo (2001), no qual tomo como ponto de partida a teoria da pós-modernidade para me apropriar de uma apropriação, na qual a famosa cena do chuveiro do filme Psicose é copiada, além de dar um tom irônico ao colocar a música I love you na interpretação de Frank Sinatra. É por isso que esse tipo de imagem funciona, porque são ícones da cinematografia mundial, e por esse motivo têm um conceito predefinido que não tento mudar, e sim usá-lo para dizer algo a mais.
Rashomon Dance Experience (2003), vídeo produzido em um workshop no contexto do World Wide Videofest em Amsterdã, com o videoartista brasileiro Pedro Vilela, foi uma experiência de trabalhar mais uma vez com as imagens vindas do cinema. Houve uma aproximação com o seu trabalho ou você desenvolveu uma nova relação dada as especificidades do filme e o trabalho coletivo?
Foi uma experiência muito grata para mim, já que o trabalho que propomos com Pedro era muito parecido com o trabalho que fazia até aquele momento.Eu nunca havia trabalhado coletivamente com outro videoartista, e assim foi um processo muito natural para mim.
Max Hernadez Calvo, em um artigo sobre sua obra, afirma que existe uma oscilação entre o pessimismo e o prazer. Essa relação existe em seu trabalho?
Creio que toda a minha vida está guiada por esta dicotomia, não creio poder conseguir um sem o outro. Sou pessimista por natureza, o prazer chega para superar as minhas expectativas.
Existe alguma relação entre o seu trabalho e o contexto político e social de seu país?
Considero que toda obra de arte é filha do contexto no qual foi criada. Apesar disso, minha preocupação em meus últimos trabalhos tem sido anular todo elemento típico no vídeo, para que não fique vestígio do momento em que foi criado e assim tenha uma vigência mais prolongada.