• Gerardo Mosquera, Ntone Edjabe, Karol Radziszewski, Sabrina Moura
Foto: Tiago Lima
    Gerardo Mosquera, Ntone Edjabe, Karol Radziszewski, Sabrina Moura
    Foto: Tiago Lima

  • Karol Radziszewski
Foto: Tiago Lima
    Karol Radziszewski
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  • Ntone Edjabe
Foto: Tiago Lima
    Ntone Edjabe
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  • Gerardo Mosquera
Foto: Tiago Lima
    Gerardo Mosquera
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  • Gerardo Mosquera, Ntone Edjabe, Sabrina Moura, Karol Radziszewski
Foto: Tiago Lima
    Gerardo Mosquera, Ntone Edjabe, Sabrina Moura, Karol Radziszewski
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Repensar o tempo: arte, silêncios e histórias

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postado em 03/11/2015
Último encontro do Seminário do 19º Festival é marcado por debate sobre perseguições políticas aos gays, estrangeiros e dissidentes políticos

Repensar o tempo: arte, silêncios e histórias, o quarto e último encontro do Seminário Lugares e sentidos na arte: debates a partir do Sul, com curadoria e mediação de Sabrina Moura, parte dos Programas Públicos do 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, reuniu no Teatro do Sesc Pompeia o cofundador da Bienal de Havana e curador do New Museum de Nova York, Gerardo Mosquera (Cuba); o artista, curador e publisher da revista DIK Fagazine, Karol Radziszewski (Polônia); e o jornalista criador e editor da plataforma curatorial e editorial Chimurenga Ntone Edjabe (Camarões).

Com obra e pesquisa voltadas para os arquivos queer da Polônia, seu país natal, e dos países da Europa do Leste e Central, Karol Radziszewski, fundador da revista DIK Fagazine, contou que seu trabalho busca construir uma narrativa histórica de perspectiva queer a partir de seu contexto local. Segundo ele, sua pesquisa, que, em partes, serviu de base para a criação da DIK Fagazine, partiu tanto de acervos pessoais, que revelavam momentos de intimidade, quanto do “arquivo rosa” mantido pela ditadura comunista polonesa. “A polícia política polonesa coletava dados para chantagear os gays e, em algumas ocasiões, fazê-los trabalhar para o serviço secreto”, conta.

Nos acervos privados, ele fala da surpresa que foi ter acesso aos arquivos do ativista pelos direitos LGBT Ryszard Kisiel, uma série de fotografias e slides produzidos ainda durante a ditadura que revelavam, além de momentos de intimidade e do uso do corpo como ferramenta de protesto, sempre com ironia, uma série de fotos voltadas para a questão da AIDS. “Tive acesso a um homem criando sua própria obra, seu próprio mundo” e fazendo algo inédito: “Não havia arte nenhuma relacionada à questão da AIDS na Polônia”, afirma.

As pesquisas são utilizadas pelo artista como uma maneira de realizar sua obra, colocando em diálogo diferentes tempos, materiais e linguagens. “Transformo as colagens e crio várias obras que se relacionam com as fontes originais. A minha estratégia é usar a arte de uma maneira política, trabalhar com esse queer archive sem me restringir à agenda LGTB, mas, sim, estabelecendo uma perspectiva além dos direitos gays”.

Criador da revista pan-africana Chimurenga [Espírito de luta], publicada ao longo de sete anos, Ntone Edjabe falou sobre uma série de ataques xenófobos na África do Sul em 2008, que deixou mais de 100 mortos, experiência que o transformou por completo, forçando-o a uma série de reflexões, e mudou o caráter de sua publicação. “Ataque, crise, violência. Isso não é incomum na África do Sul. É um país novo, há disputas, há muitas questões abertas. Temos ataques desde o início dos anos 1990”.

Chimurenga era, para Edjabe, um jornal literário ou uma plataforma de reflexão. Segundo ele, a arte e a cultura podem ser compreendidas como espaços de resistência. “A relevância é o que define a produção da cultura. Quando você escreve, você tem de saber por que está escrevendo. Isso é uma condição sine qua non na cultura. Chimurenga era uma tentativa de lutar contra a relevância. A gente escrevia porque estava vivo”.

A respeito dos conflitos de 2008, ele diz, “fiquei consciente de que nós estávamos sendo derrotados. Surgiram questões de cidadania, nacionalidade. A gente estava escrevendo sobre isso (o pan-africanismo) há oito anos. Eu nunca me recuperei disso”.

A partir de então, tem-se início uma transformação. A revista deixa de circular em 2009 e é retomada em 2011. “A gente resolveu sair do formato revista para o jornal. A crise de 2008 me mostrou que estávamos em uma crise de língua, de articulação. Por que não criar um jornal, uma ‘máquina do tempo’ que nos permita voltar no tempo – não para revisitar ou fazer a experiência novamente, mas, sim, usar o aprendizado naquela crise e naquela crise de idioma em que estávamos?”, conta. “Quando falo sobre a crise da língua, falo sobre a dificuldade em falar de nós mesmos. A gente não tem uma língua para falar o que sabemos. O jornal está lá como produtor de conhecimento e de língua”, afirma.

Ntone Edjabe apresentou mapas criados pelo Chimurenga, sugerindo novas definições a partir de vetores, círculos, e não de fronteiras delimitadas. “Como seriam os mapas se construídos pelos africanos e para seu próprio uso?” Um dos exemplos foi um mapeamento de conflitos internos no continente.

Gerardo Mosquera abordou o trabalho da artista cubana Tania Bruguera. Paralelamente à 12ª Bienal de Havana, em protesto à repressão sofrida, a artista realizou outra performance: a leitura de As origens do totalitarismo, de Hannah Arendt, do início ao fim, ininterruptamente. “A polícia não a permitiu fazer a performance na rua. Tania a fez em âmbito privado. Era legal ler o livro em casa. A performance começou, e foi ameaçadora para o governo”.

Diante da ameaça, o governo deu início a ruidosas obras na via pública durante a leitura de Bruguera. Apesar do perigo, a artista foi para a rua com uma pomba e o livro na mão. Parada por uma policial, Bruguera pensou em dar-lhe o livro, mas optou por soltar a pomba, que voou, atingiu uma parede e caiu na calçada, próxima a ela. Em seguida, Bruguera atirou o livro contra a parede, dando-lhe a mesma trajetória e destino da pomba.

“Essa performance na rua foi completada pela repressão policial. O que ela fez, ao liberar o livro e a pomba, foi um improviso que se tornou um símbolo da liberdade e repressão, do indivíduo contra o Estado”, conta.

Segundo Mosquera, as diferentes manifestações de repressão do Estado contra Bruguera, sobretudo no último caso, criaram uma rede de solidariedade dentro e fora do país. “Ela é uma artista séria, que foi ameaçada por defender a liberdade de expressão. Todos podemos ser a Tania. Vamos desejar que algum dia a liberdade de expressão em Cuba não seja uma performance”.


Agenda
Nos dias 4 e 5 de novembro (quarta e quinta-feira), a partir das 13h, no Galpão VB, os artistas Clara Ianni, Débora Bolsoni, Felipe Bittencourt e Rodolpho Parigi, integrantes da exposição Panoramas do Sul | Obras Selecionadas do 19º Festival, participam das Leituras de Portfólios de artistas previamente inscritos na atividade. Aberta ao público em geral, a atividade é uma oportunidade especial de formação, possibilitando o acesso às pesquisas e estratégias de cada um deles. Para participar, basta retirar senha uma hora antes no local.