As obras da artista marroquina radicada na França Bouchra Khalili - e, em particular, Vue Panoramique, apresentado no 15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil (2005) - revelam o espaço de uma forma intensa. Suas construções visuais tornam-se verdadeiras paisagens que mostram, de forma sutil e delicada, os movimentos e usos característicos dos lugares que retratam. Pode-se ver isso nitidamente em Vue Panoramique, na duração dos planos, no desencontro entre texto e imagem e na distância com que as cenas são tomadas, sempre de longe. A artista parece mesmo criar uma lacuna entre imagem e locução, deixando espaço para preenchermos com os sentidos despertados pela obra.
Em trabalhos como Napoli Centrale (2002) e Vue Aérienne (2006), o modo de posicionar a câmera, a relação entre locução e imagem e o rigor na composição formal do quadro revelam também paisagens que mostram os usos e funções do espaço - como acontece com o canal entre Marrocos e Espanha em Vue Panoramique. Tratando freqüentemente do espaço público, os vídeos de Khalili enfatizam os movimentos da paisagem, o ir-e-vir dos barcos (ou a “arquitetura móvel dos portos”, nas palavras de Baudelaire), a circulação das pessoas, as passagens e as fronteiras - espaços abertos ao nomadismo e que nos convidam a um olhar contemplativo, que transita pela imagem.
O crítico de arte, teórico e escritor Stephen Wright, que foi editor europeu da revista Parachute e leciona filosofia em Paris e Toulon, assina o ensaio sobre a obra de Khalili neste FF>>Dossier, o último de uma série de seis edições dedicadas às relações entre espaço e imagem. Homenagem em forma de reflexão ao texto homônimo de Foucault, a curadoria Outros espaços teve como objetivo ampliar o debate acerca destas relações, tomando como ponto de partida trabalhos exibidos no 15º Videobrasil - além de desdobrar as ações da Associação Cultural Videobrasil e dar visibilidade a artistas e obras para além do Festival.
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